sábado, 18 de junho de 2016

Laços de família

Islã, homofobia e armas: todos tiveram um papel na tragédia de Orlando.
Mas e quanto às disfunções familiares?



O que pode ter motivado Omar Siddiqui Mateen a matar 49 pessoas que se encontravam na casa noturna Pulse durante a madrugada do último domingo?

(a) Terrorismo islâmico
(b) Homofobia
(c) Pouco controle do porte de armas

A melhor alternativa pode ser "nenhuma das alternativas acima". A pressa em encontrar uma maneira de explicar os motivos da mente problemática de Omar é absurda - entretanto, previsível por se tratar de um ano eleitoral nos Estados Unidos.

Para o candidato republicano Donald Trump, o massacre em Orlando oferece uma oportunidade de ouro para incitar o medo da religião islâmica, refugiados e imigrantes, legais e ilegais. "Aprecio os parabéns por estar certo sobre o terrorismo islâmico radical", escreveu ele em seu twitter após a explosão da notícia. "Eu não desejo os parabéns, mas peço fortaleza e vigilância. Precisamos ser espertos!".

A candidata democrata Hillary Clinton, por outro lado, focou no argumento sobre o controle de armas e solidarizou-se com a comunidade LGBT. "Para todas as pessoas LGBT de luto neste dia: vocês possuem milhões de aliados que estarão sempre ao lado de vocês. Eu sou uma delas" foi sua mensagem.

Em um discurso no dia 13, ela enfatizou ser resistente contra terroristas e armas. "Nós enfrentamos uma ideologia torta e uma psicologia envenenada que inspira os chamados 'lobos solitários'", declarou. Mas ela também argumentou que "se o FBI está te investigando por conexões suspeitas com o terrorismo, você não deveria conseguir comprar uma arma sem ao menos algumas perguntas".

Nós mal sabemos alguma coisa sobre os impulsos tóxicos que irrompiam no cérebro de Omar. É possível até mesmo que ele tenha sido homossexual. Diversos jornais noticiaram que ele costumava frequentar a boate Pulse e usar aplicativos de celular para se conectar com outros homens, o que ainda está para ser confirmado.

A situação não fica mais clara se a tragédia é rotulada como homofobia. Os alvos da fúria de Dylann Roof no ano passado em Charleston foram cristãos, mas chamar essas mortes de "cristanofobia" verte pouca luz sobre o assunto. Omar invocou o islã, mas parecido ter sido apenas um lobo solitário. Com ou sem o islamismo como pretexto, ele e Dylann podem ter cometido o mesmo crime.

O motivo que consegue conectar a maior parte daqueles que executaram um assassinato em massa nos últimos anos não foi mencionado pelos candidatos ou pelos especialistas. É a vida familiar conturbada.

Pouca coisa foi revelada acerca da família em meio a qual Omar cresceu, mas sabe-se que seu pai é um sujeito ímpar que concorreu a presidente do Afeganistão no conforto de sua sala-de-estar na Flórida. Sua mãe, entretanto, é notável por sua completa inexistência em qualquer reportagem midiática. Por alguma razão, Omar decidiu mudar seu sobrenome ao atingir os 20 anos, o que sugere que havia algum tipo de tensão entre ele e seus familiares.

Independente de como foi a sua vida quando criança, ele falhou como marido e pai. O seu casamento com uma mulher do Uzbequistão, Sitora Yusifiy, durou cerca de quatro meses. Ela reclamava de agressão física. Depois ele se casou novamente e teve um filho, o qual já possui 3 anos de idade.

Este é o tipo de perfil que a maioria desses assassinos possuem: lares e casamentos miseráveis. Anders Breivik, o norueguês que matou 77 pessoas em 2011, parece ter adicionado apenas um capítulo à sua história doméstica. O seu pai abandonou-o quando ele tinha 1 ano de idade. Para ele, foi o segundo de três casamentos. A sua mãe, em acréscimo, também teve três companheiros. É estranho perceber como os autores americanos de tiroteios em massa possuem planos de fundo similares.

Dylann Roof, que matou nove pessoas em uma igreja de Charleston (Carolina do Sul) no ano de 2015 veio  de uma família severamente conturbada. O seu pai divorciou-se de sua mãe e ele passou a ser criado por sua madrasta.

John Zawahiri, 23, matou cinco pessoas em Santa Mônica no ano de 2013 próximo ao campus de uma universidade estadual. Seus pais haviam se separado há anos.

Em dezembro de 2012, Adam Lanza, 20, matou sua própria mãe, seis funcionários em uma escola primária de Connecticut, e mais vinte estudantes antes de atirar em si mesmo. Seus pais eram divorciados.

Wade Page era um defensor da supremacia branca que matou seis adeptos do siquismo em Milwaukee antes de ser morto por um oficial no início de agosto de 2012. Seus pais eram divorciados.

No outubro de 2011, um homem da Califórnia (Scott Evans Dekraai, 41) entrou no salão de beleza de sua ex-esposa, matando ela e outras sete pessoas a tiro. Seus pais eram divorciados.

Os Estados Unidos possuem uma lista longa, muito longa, de homens (quase sempre são homens) com histórias conturbadas que carregam armas e matam várias pessoas. Não são todos que vêm de lares despedaçados, mas é bastante provável que, na maioria dos casos, suas dinâmicas familiares eram ruins.

Não sabemos ao certo porque ninguém está perguntando. Pesquisas sobre a cultura do casamento, como reportadas pela mídia, parecem sempre focar em encontrar justificativas plausíveis para o casamento de pessoas do mesmo sexo em vez de investigar as tóxicas consequências de um divórcio.

É mais fácil criticar as leis de controle de armas do que criticar a cultura do divórcio e a destruição que ela causa tanto na vida das crianças como na dos esposos. Mas, como comentado em 2014 no MercatorNet, após Elliot Rodger, 22, atirar e esfaquear pessoas na Universidade de Califórnia em Santa Bárbara e matar seis delas, "talvez eles não precisariam mais do controle de armas se tivessem um melhor controle do divórcio".

Como rifles de assalto prontamente disponíveis, a homofobia e o islamismo radical são fatores do último massacre. Mas não os únicos fatores. Militar em favor das alternativas do controle de armas, da homofobia e do islamismo radical não extinguirá a raiva da mente dos filhos que sofrem com o divórcio.

Postado originalmente em MercatorNet por Michael Cook.
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Traduzido e adaptado por Maurício Borges.

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