segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Meu, meu e meu!





“Meu, meu, meu!”. Não há criança até mais ou menos seis anos, que não esteja disposta a armar um `faniquito` em defesa daquilo que considera seu… ainda que não seja. Um caminhão, uma bola ou uns lápis de cor pode detonar uma antológica birra. Isto não significa que a criança seja uma egoísta consumada senão que ainda é pequena e necessita de ajuda para descobrir a generosidade.

Que a uma criança custe compartilhar é fácil de entender. Segundo sua mentalidade, compartilhar é perder, e precisamente por isso acaba não só sendo difícil fazê-la compreender que deve emprestar suas coisas como, mais ainda, que não é dona daquilo que vê.

Aplanar o terreno

A maioria das crianças de dois anos costuma ser muito individualista. Logo começam a buscar a companhia de outras crianças para brincar e divertir-se. E é por volta dos quatro anos que começam a delimitar as barreiras entre suas coisas e as das outras crianças.

Aos seis anos adentram no período sensitivo da generosidade. Este é o momento mais apropriado para fomentar o hábito de compartilhar.

Mas para começar a trabalhar neste campo não é necessário esperar tanto. Ainda que o período sensitivo da criança comece aos seis anos, podemos ir semeando e aplanando o terreno muito antes. Já desde muito pequenos podemos indicar como ficamos felizes, quando compartilham suas coisas, etc.

Graças a esse trabalho, conseguiremos criar nas crianças um hábito, que mais tarde ela mesma converterá em virtude, com um menor esforço quanto mais perto esteja o período sensitivo propriamente dito.

Pouco a pouco

Da mesma forma que procuramos que a criança assimile um certo horário, se comporte bem, que não faça birras… devemos procurar fomentar a importância de compartilhar desde o princípio ainda que lhe custe. Não há dúvida de que esta aprendizagem será lenta trabalhosa, mas será importante para o futuro.

Se não lhe ensinamos hoje a compartilhar, pode ser que amanhã também lhe custe querer bem aos demais e, o que é muito mais importante, a dar-se a quem a rodeia.

Não ensinar a ser generoso, poderia implicar estar alimentando um egoísmo futuro que mais tarde será mais difícil solucionar.

Sair de si mesmo

Durante seus primeiros anos de vida (até os dois anos aproximadamente) as crianças costumam valorizar mais às pessoas do que aos objetos, por isso temos que aproveitar essa característica da idade para iniciá-los na generosidade, precisamente através das pessoas. Quer dizer, devemos procurar que vejam que dar é uma forma de amar e que a generosidade se encontra estreitamente ligada à alegria de fazer que os demais sejam um pouco mais felizes.

Para consegui-lo podemos, já desde bem pequenos, ajudar que relacionem os conceitos dar-amor-alegria-bom.

O pedagogo alemão Dr. Rudolf Steiner recomendava empregar nestes casos, o verbo “dar” ao invés de tirar, sempre que fosse possível já que “é mais saudável ensinar a contar dando maçãs do que as tirando”.

Respeitar suas coisas

A criança é capaz de compreender rapidamente estas relações e conceitos se os apresentamos em forma de brincadeiras. Graças a eles conseguiremos que a criança vá captando a diferença entre o seu e o dos demais.

Durante os primeiros anos (dois ou três) a dificuldade em respeitar as coisas alheias é normal. Pode ajudá-la a superar essa dificuldade ver como os demais respeitam suas coisas (sapatos, brinquedos, livros…). Para trabalhar neste campo podemos marcar as coisas dela com um determinado sinal.

Ao mesmo tempo, podemos assinalar outros objetos da casa como “de todos” (livros, jogos, computador…), que deve se acostumar a usá-los com cuidado e deixá-los sempre no lugar.

Conceito de intercambio

Quando a criança já tenha aprendido a distinguir o seu, o de todos e o dos outros, o passo seguinte será ajudá-lo a entender o conceito de intercambio. Por exemplo: a criança empresta o seu caminhão ao seu primo que da mesma forma lhe empresta a sua bola colorida.

Ao princípio a idéia terá que partir de nós até que a criança assimile de tal forma que seja ela mesma a realizar essas trocas.

Mais adiante deverá começar a pedir e emprestar as coisas durante um certo período de tempo. Assim, compreenderá outro conceito igualmente importante: saber esperar.

Por último, teremos que ensinar a presentear e, o que é ainda mais importante, a ficar contente com isso.

As seguintes etapas que a criança deverá superar serão igualmente importantes: ceder, pedir por favor, agradecer, ter cuidado com as coisas, devolver o que lhe emprestaram…

Questão de apoio

Nosso apoio e constante incentivo se constituirão no eixo fundamental durante estes anos. Não esqueçamos que o que mais motiva os filhos é que seus pais valorizem cada pequeno esforço que eles realizam. Por isso, é importante que alegrar-nos expressivamente por sua boa conduta, inclusive, de vez em quando podemos premiar com um detalhe, quando consegue ser generoso.

Para pensar:

Nunca acusemos a criança de egoísta. Rotular é o pior caminho para conseguir que supere um pequeno defeito ou mau hábito.

Procuremos agüentar estoicamente suas birras. Ceder quando a criança chora por ter que compartilhar um brinquedo não a ajuda a entender que não pode ter tudo.

Devemos ensinar que se compartilham seus brinquedos também serão beneficiados, sobre tudo porque seus amiguinhos também lhes emprestarão suas coisas. Assim será muito mais fácil desprender-se de suas coisas.


Artigo publicado no IBF: Instituto Brasileiro da Família
Autor: Elena Lopes
Assessora: Blanca Jordan
El arte de Educar de 0 a 6
Revista Hacer Família – n. 81

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