quarta-feira, 15 de abril de 2015

Fecundação In Vitro: o que não sabíamos


Recentemente morreu Robert Edwards, o pesquisador que desenvolveu a técnica do “bebê de proveta” ou fecundação in vitro (FIV). A notícia gerou muitos artigos e testemunhos de pessoas que experimentaram a técnica para conseguir ter filhos. Aqui vão dois relatos que jogam luz em aspectos menos divulgados dessa técnica.


Uma dupla experiência negativa


Samantha Brick queria muito ter um filho, tentou fertilização in vitro e não conseguiu engravidar. Escreveu sua experiência no Dailymail.

Semana passada abri minha geladeira e reparei nos diversos frascos com remédios utilizados no processo de tentar engravidar usando a fecundação in vitro. Somados perfazem milhares de libras esterlinas. Meu bom humor evaporou. Esse material me faz lembrar da minha recente segunda tentativa que também terminou fracassando.

Meu marido, Pascal, e eu pagamos mais de £6 mil para ter um tratamento em uma clínica com boa reputação. Os quatro óvulos que meu corpo produziu não eram viáveis e ‘morreram’ horas após terem sido retirados do meu ovário.

Quando li que o pioneiro da técnica Robert Edwards morreu, experimentei emoções dispares. Tristeza pela sua família e raiva de com um homem que brincou de Deus com a vida humana. Eu o vejo como responsável pela agonia que passei durante os últimos quatro anos. Se a FIV não existisse, penso que teria dado um rumo melhor para a minha vida. Só que, pelo contrário, acabamos nos submetendo à montanha russa do tratamento de fertilidade.


Reconheço que a minha perspectiva é controversa e que a técnica de FIV trouxe alegria para muitas mulheres. Mas eu tive uma experiência muito viva do desgaste físico e emocional que esse tratamento, caro e invasivo, proporciona a mulher. Para cada mulher que se realizou tendo um filho, há muitas mais desiludidas, como é o meu caso, que ficaram sem nada.

Vidas são criadas e destruídas. Frequentemente, o casamento não sobrevive a turbulência criada pela FIV. Em alguns casos, mesmo após terem passados anos do fracasso, ficam ainda parcelas a serem pagas do tratamento. FIV está longe de ser um milagre da indústria da fertilidade. Na melhor das hipóteses FIV oferece 25% de chances de ter um bebê. Chance que diminui de acordo com a idade da mulher. Com 40 anos, minha chance era de 12%.

Casei com meu primeiro marido com 31 anos. Meu mundo caiu quando, 18 meses depois, descobri que ele não queria ter filhos. Casei com meu atual marido, Pascal, quando tinha 36 anos e queríamos ter um filho logo. Não conseguimos. Quando tinha 39 anos descobrimos que Pascal tinha uma contagem pequena de espermatozóides devido a uma infecção contraída em um acidente no trabalho. A cenoura da FIV balançava na nossa frente.


Antes do tratamento, os médicos explicaram os benefícios e os riscos inerentes. Disseram-me que em algumas mulheres o tratamento está ligado ao câncer de mama e ao de ovários. Há algumas histórias que circulam na internet em que alguns médicos não permitem que suas esposas façam o tratamento da FIV devido aos riscos para a saúde. No entanto, a FIV passou a ser a escolha automática para mulheres inteligentes e de nível superior como eu.


Comecei o tratamento em fevereiro no ano passado. Quem passou por isso, vai entender quando digo que parece que você está numa granja. Produzi dez óvulos e tive dois embriões implantados no útero, mas em abril descobri que não estava grávida.

Comecei de novo em dezembro. Dessa vez, desesperada para conseguir engravidar, resolvi não trabalhar durante o curso do tratamento. Durante cinco semanas tomei remédios que mexem com os hormônios para controlar a ovulação, criando uma ‘menopausa antecipada’. Depois, por duas semanas, injetei doses de uma química para estimular meu ovário a produzir um excesso de óvulos. Os níveis de hormônio no meu sangue eram monitorados diariamente e meu sistema reprodutor era rastreado com freqüência. Quando descobri que não deu certo novamente, eu fiquei tão desesperada que pensei em me matar. Tal era a minha angústia por não conseguir ser mãe.


Emocionalmente, ainda estou devastada. Choro e tenho momentos de depressão. Não consigo ficar perto de mulheres grávidas ou com crianças pequenas. Há também os efeitos colaterais: acne, aumento de peso, pesadelos e dor abdominal aguda. Não sofri isso durante o tratamento, mas agora, três meses depois.


Honestamente, eu não consigo imaginar entrar novamente em outro ciclo de tratamento de FIV. Não tenho forças suficientes. Começo a acreditar que nem todas as mulheres estão destinadas a se tornarem mães.

Robert Edwards afirmou em uma ocasião: “A coisa mais importante na vida é ter um filho. Nada é mais especial do que ter um filho”. Eu, mais do que ninguém, concordo com ele. Mas também acredito que algumas coisas não devem ser tocadas: criar vida artificialmente é uma delas.





Sheila Diamond é doutoranda pelo Instituto João Paulo II para Estudos em Matrimônio e Família em Roma, Itália. Ela também tem seu testemunho.


Cada vez mais acontece de dar parabéns a uma amiga por estar grávida e saber logo em seguida que utilizou a técnica de fertilização in vitro. Em uma dessas ocasiões perguntei se sabia que a Igreja Católica condenava essa prática. Minha amiga não entendeu: “Mas a Igreja não encoraja a vida e a vinda dos filhos?” Eu sugeri que pesquisasse na internet e ela ficou chocada ao ver que eu tinha razão: “Não tinha a menor ideia!”.


Eu não fiquei surpresa com sua reação, afinal nunca ouvi uma homília sobre isso. E também porque uma pessoa com instrução, mesmo sendo católica, não gosta que lhe digam o que deve ou não fazer. Se quiser ter filhos e não consegue, não há motivos para não recorrer a inseminação artificial.


Bem, o problema começa por aí. Não se trata apenas de uma técnica para ter filhos, mas para ter o melhor filho. Parte do problema ético é que a fertilização in vitro envolve medidas de eugenia. Quando o óvulo é fecundado no laboratório, gera diversos embriões. Cada um deles é examinado e apenas um ou dois – os que tiverem melhores condições - são implantados no útero. Os demais embriões não aprovados (seja porque possuem um problema genético ou porque não são do sexo que os pais querem) são congelados ou destruídos. Atualmente há milhões de embriões congelados em laboratórios. O seu processo vital foi suspenso porque não tinham as melhores condições.


Os casais que procuram a fertilização in vitro normalmente não sabem disso. As clínicas de fertilidade funcionam em bases comerciais, a concorrência é grande e sabem que a taxa de sucesso (número de gestações bem sucedidas) é fundamental para atrair clientes. Para melhorar essa taxa produzem e implantam o maior número possível de embriões. Em consequência, há mais excesso de embriões para serem descartados ou congelados.


Muitos casais pedem para congelar seus embriões para um possível uso futuro. O problema é que a fertilização in vitro é um processo tão exaustivo para a mulher que dificilmente acontece uma segunda rodada. Após conseguir uma criança, ficam satisfeitos e desistem do processo.


Eu conheci uma mulher que usou a técnica e conseguiu duas filhas gêmeas. Teve um parto prematuro e uma das meninas apresentou uma perda progressiva da audição. A mãe tinha 40 anos e durante a gestação passou muito mal. Agora ela tem 8 embriões congelados. Ela só percebeu isso mais tarde. Antes pensava que apenas os óvulos e o sêmen eram congelados. Agora está ansiosa e tem que decidir se paga mais um ano de armazenamento dos seus 8 filhos congelados ou se os descarta. Acha que não consegue sobreviver a outra gravidez. Pediu a irmã para implantar no útero um desses embriões, mas ela se recusou. Seu marido não entende a sua aflição e, vendo a gestação perigosa que teve, não permite que engravide de novo. Acha que deve esquecer os outros oito. Ela acha que o homem entra com a parte mais fácil no processo (ceder o sêmen) e não entende o que isso significa para uma mulher.


Outro dia ela me comentou: “Eu olho para minhas filhas, tão bonitas, e penso: Tenho outras lá na clínica, congeladas! Sei que um dia minhas filhas vão me perguntar: Onde estão as outras? E eu não sei o que vou dizer. Eu amo minhas filhas, mas me arrependo do modo que escolhi para que viessem ao mundo”.


Acho que fica mais fácil entender o veto da Igreja Católica. Uma criança tem o direito de ser concebida no seio do amor conjugal. Com a fertilização in vitro, a criança é concebida através de uma manipulação de terceiros. Isso não anula ou diminui o valor dessa vida, mas a expõe a riscos de todos os tipos (congelamento, descarte, experimentos, abusos de todos os tipos).


Informação suplementar

1. A FIV não é um tratamento para a infertilidade. Uma mulher saudável é normalmente capaz de conceber e ter um filho. Se ela não pode, é provável que haja algo errado que pode ser diagnosticada e tratado. A FIV não vai ajudar a resolver a infertilidade, porque o seu foco exclusivo é gerar bebês, não tem por objetivo restaurar a fertilidade, permitir futuras gestações saudáveis, prevenir abortos espontâneos, nem ajudar a mulher a garantir benefícios para a sua saúde no longo prazo (quer ela engravide ou não).


2. Além do risco de nascimento prematuro, os estudos científicos evocam um aumento demalformações em crianças concebidas por Fecundação In Vitro (FIV). O histórico registra uma incidência 25% maior do que ocorre com crianças concebidas naturalmente. Observam-se anomalias do sistema cardiovascular, urogenital e musculoesquelético.



Artigo do blog: O Correio Chegou.

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