segunda-feira, 17 de março de 2014

Porque Frozen não é feminista

- Se você não viu o filme e pretende ver, talvez não deva ler esse post, porque contêm SPOILERS! -



Quando assisti Valente no ano passado com o Marcos no cinema, nos divertimos muito e foi excelente. Eu sempre gostei de desenhos Disney e vivo cantando as músicas das trilhas sonoras. Nos surpreendemos, porém, quando ficamos sabendo que Valente tinha sido eleito - pasmem - o filme gay (!) do ano. Não bastasse isso, agora sobrou pro longa Frozen a etiqueta de feminista.

Resumindo a paçoca - Se você já assistiu o filme, pode pular essa parte.


 Frozen é inspirado no conto de fadas A Rainha da Neve, de Andersen, e trata da história de duas princesas irmãs - Elsa e Anna - que se veem separadas na infância devido aos poderes mágicos congelantes da mais velha, Elsa. Anna acaba sendo atingida de modo acidental brincando na neve com a irmã e os pais decidem deixar Elsa isolada em seu quarto de modo a não oferecer maiores riscos para ninguém. A memória de Anna é apagada, então a menina não sabe exatamente porque a irmã simplesmente decidiu afastar-se dela. As duas vão crescendo, os pais morrem em um naufrágio e Anna, com o passar dos anos, torna-se a típica romântica sonhadora Disney, como Gisele de Encantada e tantas outras, aspirando encontrar o amor verdadeiro. Elsa, porém, continua vivendo isolada, procurando conter seus poderes para não machucar mais pessoa alguma.


Ocorre que Elsa atinge a idade necessária e é coroada rainha. No baile comemorativo da coroação Anna aparece com um príncipe que conheceu pouco antes e pede a benção da irmã para seu futuro casamento.
Elsa, todavia, diz que não daria sua benção para um casamento com um homem que Anna acabara de conhecer. A princesa insiste com a irmã e a rainha perde o controle, fazendo uma grande demonstração assustadora de seus poderes, para o pavor dos súditos ali presentes. Elsa foge e decide morar sozinha em seu próprio castelo de gelo, onde pode ser livre do jeito que é.


O filme segue com um grande e interminável inverno que se abate sobre o reino, enquanto Anna decide ir procurar a irmã e trazê-la de volta. É aí então que a princesinha conhece Kristoff - um rapaz que trabalha com colheita de gelo e seu inseparável amigo, a rena Sven - que é convocado para ajudá-la nessa empreitada, por ter um trenó. Nessa aventura o grupo conhece também Olaf, o boneco de neve falante mais simpático do mundo.


Anna encontra Elsa e a rainha expulsa a irmã. Acidentalmente, mais uma vez Anna é atingida pelos poderes de Elsa e começa lentamente a congelar por dentro. Apenas um ato de amor verdadeiro poderia salvá-la da morte. Anna é conduzida por Kristoff ao príncipe quase morrendo e o dito cujo, além de não beijá-la(ato de amor verdadeiro), apaga a lareira e deixa a pobre morrer para se tornar o novo rei da cocada preta.
Essa é, na minha opinião, uma das cenas mais lindas, em que Olaf consegue entrar onde a princesa se contra e acende de novo a lareira, mesmo com o risco de derreter, porque ''existem pessoas pelas quais vale a pena derreter''! Kristoff, que se apaixonou por Anna, resolve voltar atrás da jovem, porque vê que ela precisa de sua ajuda. Anna vai também ao seu encontro quase congelando, para ser salva pelo beijo de amor de Kristoff, quando vê que o príncipe está a ponto de matar sua irmã e, entregando sua vida por Elsa, sai da rota de Kristoff e se coloca entre a irmã e o príncipe, onde congela a tempo de deter a infame e cruel espada.
Elsa chora e abraça o estátua de gelo em que transformara sua irmã quando, pouco a pouco, Anna volta a vida, devido àquele ato de amor que ali se operava. Elsa descobre então que a força para trazer de volta o verão para o reino era o amor e todos vivem felizes para sempre.


Bem, agora vamos lá. 

De fato, Frozen quebra alguns paradigmas se comparado com os contos de fadas mais tradicionais. Quando Elsa nega a benção ao casamento da irmã alegando que ela acabara de conhecer o príncipe, já é possível identificar uma grande mudança.
O que pensar, então, de Branca de Neve, Bela Adormecida, e tantas outras que mal conheceram seus príncipes e já subiram ao altar? Brincadeiras a parte, considero a resposta de Elsa bastante interessante e, de modo geral, válida para quebras as expectativas.
É claro que existe toda uma teoria monarquista que contradiz totalmente a fala da rainha, visto que uma princesa deveria casar-se com ''o melhor partido'' com vistas ao bem do reino e não a suas próprias aspirações pessoais, mas essas prerrogativas monárquicas já não eram usuais nas produções Disney anteriores,  em que o comum é ver príncipes se casando com plebeias.
A polêmica maior porém, começa com o fato de que Elsa decide fugir e viver sozinha. Para as pessoas que procuram usar todo tipo de coisa a favor de sua causa revolucionária, é épico-inimaginável-lindo-glamouroso ver uma princesa, ou melhor rainha, disney ''sendo independente e indo morar sozinha, sem esperar que um príncipe vá salvá-la, porque é forte o suficiente e não precisa de homem''. Para as pessoas normais, porém, isso tudo só significa aquilo o que realmente o filme quis dizer, ou seja, que Elsa decidiu ir viver afastada para não ferir ninguém com seus dotes gelados. E ponto.
Eu cheguei a assistir um vídeo no qual uma mulher vestida de Elsa ficava dando lições de moral em outras mulheres vestidas de Bela, Branca de Neve, etc., propagandeando sua independência em detrimento da vida chatinha das outras que tinham de ficar em casa por causa de homem e jogaram seus desejos de aventura fora.
É realmente absurdo como alguns ideólogos procuram colocar palavras que o filme não disse em sua boca. Desde quando querer ser dona de casa é algo ruim? As mulheres não deveriam ter a liberdade para fazer o que bem quisessem com sua vida profissional? Ou será que elas só podem ser livres para não trabalharem em seu próprio lar?
De fato, eu acredito que Frozen traz uma mensagem diferente de outros filmes de princesa, mas enxergo isso de outra maneira.A verdade é que muitos filmes desse tipo apregoam uma certa dependência feminina, como se elas só pudessem ser felizes de verdade estando casadas, o que não é verdade e a rainha Elsa ilustra muito bem. O ser humano é completo em si mesmo e, quando se une a outro, exercem os dois uma mútua complementariedade. Essa história de metade da laranja e alma gêmea só funciona enquanto letra de música do Fábio Jr. e, diga-se de passagem, nem tão bem assim.
Outra lição a ser tirada do filme Frozen é a de que o amor Eros, simbolizado por Kristoff e Anna, deve estar submetido ao amor Ágape, o amor de Caridade, representado pelas duas irmãs. Isso pode ser visto quando Anna renuncia a própria vida, que lhe seria preservada com um beijo de Kristoff, e vai em direção a irmã para salvá-la. O amor romântico de Kristoff por Anna também estava impregnado do amor Ágape, já que cenas antes ele também levara a amada para unir-se a outro homem porque isso salvaria sua vida.


5 comentários:

  1. Ótima análise do filme! De fato o filme simboliza muito bem o valor do Amor de verdade que não é o amor egoísta mas o Amor de doação, ou Ágape - Charitas!

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  2. Desculpa, mas discordo da sua análise. De fato, a felicidade da mulher não está em TER que se tornar independente, mas no fato de poder ter opção. Não vejo o isolamento da Elza como um ato feminista de empoderamento, mas sim (como vc citou no texto que seria o mais compreendido pela maioria) de que isolou-se para não machucar ninguém e, mais, por não se encaixar, por ser diferente. Porém, vejo a Anna como o maior ícone feminista do filme, por diversas atitudes: tomar a iniciativa de declarar-se pro príncipe, recusar ajuda dele na busca pela irmã, o modo como conduz suas conversas com o Kristoff, o modo como deixa claro não necessitar da defesa ou intermédio dele para conversar com a irmã ou para o acerto de contas com o príncipe, seu desfecho romântico com um homem socialmente abaixo dela, dentre outros. Vejo empoderamento, atitude e coragem feministas nas atitudes dela. Pra mim, é a grande protagonista da animação. =D

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